Empresários relatam os prejuízos causados pelo lockdown noturno e temem consequências da medida
A pandemia de Covid-19 assustou a grande maioria dos comerciantes dos mais diversos setores. Porém, o comércio varejista já mostrava sinais de recuperação no final do ano passado, com os níveis de transmissão da doença menores. Um desse indícios de melhora foi o aumento de 4,2% de faturamento em dezembro de 2020 na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Mas com o anúncio das novas medidas, muitos desses empresários temem fechar as portas com os prejuízos causados pelo lockdown noturno. Mesmo que a medida se mostre eficaz para conter o avanço do vírus em países europeus, no Brasil a medida é bastante criticada pela classe. Nesta semana, pessoas ligadas ao ramo da distribuição de bebidas protestaram contra o fechamento parcial na frente da câmara legislativa de Valparaíso de Goiás pelo fim das restrições.
As reclamações continuam em outras cidades também. Pedro Henrique Melo é sócio de um bar e restaurante no centro de Luziânia. Ele conta que sem nenhum decreto vigente atendia até às duas da manhã aos fins de semana e agora precisa fechar às 8h perdendo uma boa parte da clientela que frequentava o “Happy Hour”. “O pessoal geralmente sai do trabalho umas 6h, se for em casa se arrumar nem dá tempo, tem que vir direto. Quem vem fica só duas horas, passa num piscar de olhos. Muita gente até nem vem”, relata o empresário.
O empreendimento recém aberto está enfrentando dificuldades de manter a equipe por conta das perdas financeiras que o decreto causou. Três funcionários foram dispensados para reduzir despesas e evitar prejuízos. “A gente tentou minimizar ao máximo as despesas e acabou tendo de dispensar alguns colaboradores. Como diminui bastante o movimento por causa da limitação de horário, não dá pra manter o mesmo pessoal”, explicou.
No momento de dificuldade, Pedro Henrique e o sócio buscaram novas maneiras de atrair clientes no horário de funcionamento permitido. O serviço de delivery foi adotado pelo estabelecimento que entrega até às 0h, como permite o decreto. O restaurante também não servia almoço durante os dias da semana, mas nesta segunda-feira, 1, testou o novo modelo. “A gente só servia no fim de semana, mas tivemos que nos reinventar”, conta Pedro.
Além do restaurante, Pedro também comanda uma academia de ginástica e conta que por lá o decreto afetou menos as atividades. “A gente fechava às 21h então só tivemos que diminuir uma turma. Com menos um horário, tivemos que realocar os alunos e acaba que mais alunos ficam na mesma turma”, revela o empresário sobre o efeito reverso do decreto no seu estabelecimento.
Gabriela Soares e Wesley Veloso são responsáveis por uma rede de lanchonetes que comercializa principalmente açaí. As unidades estão em Luziânia, Jardim ingá e Cidade Ocidental, todas cidades atingidas pelo decreto. Por lá, a estratégia para superar a fase foi investimento em serviço de delivery e propaganda nas redes sociais. “Felizmente, não precisamos demitir nenhum funcionário. Com o aumento do delivery, a demanda continua a mesma”, conta Gabriela.
Para ela, o fechamento dos comércios só irá fazer efeito se a população colaborar com o isolamento. “O decreto que fecha o comércio, afeta muito na economia de uma maneira geral, pois os autônomos ficam sem renda, diminuem o consumo e abala todo o sistema. Além do mais, as pessoas que não tem consciência, continuam se aglomerando em festas particulares. Se o comércio for bem rigoroso quanto às regras de higienização para essa fase, tudo ficaria melhor para todos”, avalia a empresária.
Por: Marcos Braz/Jornal O Grito