Fator Lula: O retorno do ex-presidente ao jogo político anima filiados da região
Na última semana, a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, de anular os processos e as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito da operação Lava Jato, gerou uma enorme movimentação política em todo o país. O ministro alegou que a 13ª Vara Federal de Curitiba, origem da força-tarefa, não tem competência para julgar os quatro processos, uma vez que os casos não se limitam apenas aos desvios ocorridos na Petrobras, mas também a outros órgãos da administração pública.
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Com isso, o ex-presidente retoma, temporariamente, seus direitos políticos e poderia disputar a uma eleição, por exemplo. A possibilidade animou os apoiadores e filiados do Partido dos Trabalhadores, que tem Lula como líder partidário. O jornal O Grito conversou com representantes do PT em algumas cidades do entorno para entender o que representa o retorno de Lula ao cenário político brasileiro e quais seus impactos na política local.
Kedma Karen é cientista política e historiadora e foi vereadora por dois mandatos em Cidade Ocidental pelo PT. De acordo com ela, a situação do partido e também de Lula na política nacional tem reflexos diretos no entorno. Durante as investigações da Lava-Jato e também do processo de Impeachment de Dilma Rousseff, Kedma afirma ter passado por situações de constrangimento com o eleitorado, mas que com a anulação, sente que estava certa em defender seu posicionamento a favor do ex-presidente.
Em 2012, Kedma foi eleita pela primeira vez e percebia um apoio popular maior ao partido. Já na sua segunda eleição, em 2018, ela conta que o PT deve dificuldades nas urnas, depois de desgastes dos líderes. Ela acredita que no cenário atual o ex-presidente ainda signifique para os moradores da região a “esperança de dias melhores”. “Quando a decisão saiu, eu recebi ligações de colegas parabenizando. Foi mais uma demonstração que a Lava-Jato foi uma manobra política para tirar Lula do jogo”, afirma.
Didi Viana já foi Vice-prefeito de Luziânia e é casado com a ex-vereadora Cassiana Tormim, ambos filiados ao PT. Didi, que atualmente é radialista, explica que o “Fator Lula”, como ele mesmo descreve, é uma grande esperança para os filiados e simpatizantes do partido de que a legenda recupere a potência que já teve nos melhores momentos de presidência. De acordo com ele, o ambiente interno do partido fica bem mais animado com um novo fôlego para novas candidaturas.
Porém, Didi Viana alerta que a decisão judicial que devolve os direitos políticos de Lula ainda não é definitiva e pode ser revogada por outras instâncias do poder judiciário. “O partido passa por um momento de euforia, mas é preciso ficar de olho nas decisões. Com cautela, vamos ainda esperar. Falta muito tempo para as eleições e muita coisa pode ocorrer. Ainda estamos no começo do ano e essa decisão do Fachin veio de surpresa”, explica.
Apesar da cautela de líderes como Didi, o entusiasmo ao petismo já se mostra crescente em números. De acordo com o próprio partido, a média de pedidos recebidos entre os dias 8, dia em que foram anuladas todas as ações da Lava Jato contra Lula, e 10, quando Lula discursou, representa um salto de 828%, em comparação à média de registros ocorridos na semana imediatamente anterior (1 a 7 de março). “A onda de esperança trazida pela retomada dos direitos políticos do ex-presidente Lula teve um efeito imediato no número de filiações ao PT. Nos últimos três dias, foi registrada uma verdadeira explosão de pedidos para ingressar no partido”, diz o site oficial do PT.
Vereador em quatro mandatos pelo partido em Valparaíso de Goiás, Professor Silvano também já foi secretário de educação no município. De acordo com sua percepção, a simples presença de Lula no cenário político faz com que outros líderes já mudem suas posturas “A polarização sempre existiu e hoje é com o Bolsonaro. O atual presidente vinha surfando na onda de não ter um adversário e essa decisão devolve esse clima. O anti-petismo cresceu muito nos últimos anos, mas com o cenário atual a situação deve mudar”, disse Silvano.
Por: Marcos Braz / Jornal O Grito