Goiás diz que Bolsonaro não quis manter hospital para Covid no Entorno
Goiânia – O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) negou, por duas vezes, em setembro de 2020, pedido da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SESGO) para que o Hospital de Campanha de Águas Lindas, no Entorno do Distrito Federal (DF), funcionasse até o final de dezembro do ano passado. A negativa ocorreu em pleno avanço da pandemia no país.
A informação consta de documento com informações oficiais do Governo de Goiás encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF) no último dia 18 de março. A Procuradoria Geral da República (PGR) havia feito pedido formal de dados a respeito de quantos e quais hospitais de campanha foram construídos no estado.
A unidade de saúde no município do Entorno do DF foi entregue com atraso, em junho de 2020, por Bolsonaro, e desativada em outubro seguinte, após 4 meses e 15 dias em atendimento a pacientes com Covid-19 no Entorno.
A informação foi repassada, na última quinta-feira (18/3), pelo secretário estadual de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, em resposta a ofício da procuradora da República Lindora Maria Araújo. Águas Lindas registrou a primeira morte de moradora por variante do coronavírus no estado.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) investiga o motivo de governadores terem desativado hospitais de campanha, mesmo diante da acelerada disseminação do coronavírus. Oito unidades de saúde construídas pelo estado para enfrentamento da pandemia continuam em funcionamento.
Entrega com atraso
Com atraso de dois meses, o Hospital de Campanha de Águas Lindas foi entregue pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 5 de junho do ano passado. A unidade de saúde era esperança para a população local, que precisa se deslocar para o Distrito Federal em busca de atendimento.
Resultado de acordo de cooperação técnica firmado entre a União e o estado, o hospital tinha estrutura modular – transitória – e deveria funcionar até 22 de setembro do ano passado.
No entanto, de acordo com o secretário, logo no início de setembro, o Governo de Goiás apresentou estudo técnico ao Ministério da Saúde e solicitou que o hospital de campanha continuasse o atendimento a pessoas com Covid até o dia 30 de dezembro.
Em sua resposta à PGR, o secretário de Saúde disse que fez a solicitação porque entendia ser “necessária a manutenção do hospital de campanha para garantir a continuidade da assistência à demanda decorrente da pandemia”. No dia 9 de setembro, o estado já havia confirmado 153.118 casos de contaminação por Covid-19, com 3.531 mortes em decorrência da doença.
Pedidos rejeitados
No mesmo mês, o Ministério da Saúde indeferiu o pedido para prorrogação do período de funcionamento do hospital de campanha. Diante da negativado governo federal, o secretário de Saúde diz ter se reunido, presencialmente, em 18 de setembro, com representantes da pasta em Brasília, mas o órgão autorizou o atendimento na unidade de Águas Lindas apenas pelos próximos quatro dias.
“Com efeito, em 22/10/2020, o Hospital de Campanha de Águas Lindas de Goiás foi desativado, o que se deu, como demonstrado, por decisão do Ministério da Saúde”, diz resposta do Governo de Goiás à procuradora da República.
No ofício, o governo goiano reforça que a decisão de desinstalar a unidade no Entorno do DF partiu do governo federal. “Após a decisão de desativação por parte do Ministério da Saúde, foi realizado, o processo de desmobilização do Hospital de Campanha de Águas Lindas de Goiás”, ressalta.
O Governo de Goiás afirma que equipamentos e insumos da unidade de Saúde pertencentes ao estado foram distribuídos os hospitais de campanha de Formosa, Luziânia e Trindade.
O Metrópoles não obteve retorno do Ministério da Saúde e da SESGO até a publicação desta reportagem.
Total de casos
Em Goiás, de acordo com monitoramento oficial, já foram registrados 454.076 casos de Covid-19, com 10.414 mortes.
Outros 316 óbitos são investigados por suspeita de terem sido provocados por complicações da doença. A taxa de letalidade da doença subiu, mais uma vez. Agora, está em 2,29%.
Alta contaminação
O Entorno do DF, onde se localiza Águas Lindas de Goiás, é a região com maior índice de contaminação por coronavírus no estado. Diante do quadro, esta semana, prefeituras locais decidiram fechar o comércio não essencial por pelo menos uma semana.
A cidade do chamado Entorno Sul com regras mais flexíveis é Luziânia, onde os estabelecimentos podem funcionar no modelo de entregas (delivery).