Após abusos e cativeiro, Goiana morre de câncer na Bélgica e família luta para traze-la ao Brasil
A família de Cristianny Fernandes de Sousa, de 30 anos, que disse que ela morreu por causa de um câncer no útero na Bélgica, está lutando para trazer o corpo dela para sua cidade natal, Aragoiânia, na Região Metropolitana da capital. Os parentes contam que, antes de morrer, ela sofreu uma série de abusos e foi mantida em cativeiro por um homem de cidadania portuguesa que havia lhe oferecido emprego.
Segundo a amiga Kelly Miranda, a família está tentando encontrar uma funerária que faça o traslado do corpo, mas não está conseguindo por causa da pandemia. A morte foi confirmada à família no último domingo (9). “É mais fácil trazer a cinza, mas a nossa cultura goiana é de enterrar o corpo. Tem lugar que é normal, mas para a gente não é. Então, eles [família] querem lutar para tentar trazer”, disse a amiga.
Em nota, a Secretaria de Assuntos Internacionais do Governo de Goiás afirmou que foi notificada sobre a morte da goiana e que o processo de solicitação do auxílio funerário está em fase preparatória. No entanto, a pasta adiantou que a cobertura financeira corresponde ao valor referente à cremação do cadáver no local do óbito e despesas com o traslado de cinzas das vítimas. O governo disse ainda que é possível que os parentes consigam utilizar o valor que seria referente à cremação e complementar o restante junto à funerária responsável para trazer o corpo em urna.
Cárcere e abuso sexual
Sobrinha de Cristianny, Clea Gonçalves de Sousa, de 30 anos, contou que a tia se mudou para a Europa em outubro de 2019, após receber uma proposta de emprego na área de limpeza por parte de um homem, de cidadania portuguesa, que havia conhecido pela internet. Segundo a parente, ela sonhava dar melhores condições de vida para as filhas, de 5 e 9 anos, que ficaram em Goiás. Ela relatou que este português pagou as passagens de Cristianny e, depois que ela desembarcou em Bruxelas, a manteve em cárcere privado na casa dele.
“Ela chegou a relatar para a gente que havia sido estuprada pelo português que tinha feito a proposta de emprego. Ela disse que foram várias vezes”, contou a sobrinha. Segundo a família, Cristianny conseguiu fugir do cativeiro com o apoio de uma mulher e procurou a polícia, além de pedir ajuda para o Coletivo dos Brasileiros Sem Papeis da Bélgica, que a encaminhou para um hospital. A amiga contou ainda que ela teria sido mantida em cárcere por pelo menos dois dias.
De acordo com a sobrinha, no início do ano passado, a tia foi diagnosticada com o câncer, o qual acreditava ser em decorrência da infecção causada pelos abusos. Desde então, ela lutava contra a doença. A parente explicou ainda que, nos últimos meses, o quadro se agravou e a tia ficou acamada.
Ela lutou muito, fez quimioterapia e radioterapia, mas há dois meses estava muito debilitada. Ela disse que não tinha mais forças, não respondia ao tratamento”, firma a sobrinha da vítima.
Por: Reprodução / G1Goiás