Mulher se pinta de preto e coloca peruca black power em evento escolar em Valparaíso de Goiás

Uma mulher se pintou de preto e colocou uma peruca black power durante um evento em uma escola municipal de Valparaíso de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. A ação de pintar a pele, chamada de “blackface”, é considerada racista. A prefeitura publicou nota de retratação e pediu desculpas “a quem tenha se ofendido”.

A situação aconteceu durante uma atividade em referência ao Dia da Consciência Negra, que foi celebrado no último dia 20.

A reportagem não conseguiu localizar a mulher que se pintou de preto para que se manifeste. A reportagem também tentou contato com a Escola Judite Maria da Silva, por ligação feita às 14h13 e mensagem enviada às 14h16, e aguarda retorno.

A Prefeitura de Valparaíso de Goiás enviou uma nota de retratação, destinada à “comunidade negra, comunidade escolar e a quem se sentiu ofendido quanto à atividade desenvolvida na unidade de ensino”. Na nota, a prefeitura disse que a equipe gestora e pedagógica da escola pede desculpas, de forma pública, “a quem tenha se ofendido” (veja a íntegra da nota no site do jornal).

A escola publicou as fotos do evento em seu perfil nas redes sociais na noite da última sexta-feira (19), às 19h55. Na legenda, eles escreveram que a mulher se fantasiou para fazer um reconto de uma história infantil chamada “Menina Bonita do Laço de Fita”. Porém, logo após, a publicação foi excluída.

“A personagem compareceu a nossa escola e encantou as crianças, além de falar sobre a importância de respeitarmos uns aos outros. Equipe sempre proporcionando aula show aos estudantes, pois com o lúdico, a aprendizagem é significativa”, escreveram, no dia.

A nota da prefeitura justificou ainda que, “diante da repercussão e do sentimento de ofensa interpretado pela comunidade negra, a aula foi excluída das redes sociais”.

Veja a íntegra da nota da Prefeitura de Valparaíso de Goiás:

“Servimo-nos do presente, para encaminhar a comunidade negra, comunidade escolar e a quem se sentiu ofendido quanto a atividade desenvolvida na unidade de ensino Escola Municipal Judite Maria da Silva em alusão ao Dia da Consciência Negra – 20 de novembro de 2021, PEDIDO DE REMISSÃO, conforme exposto a seguir:


I – DOS FATOS
Foi apresentado em 20/11/2021 pelos professores da unidade de ensino, trabalho em conjunto sobre o Dia da Consciência Negra, com o intuito de desenvolver desde cedo, a minimização do preconceito étnico-racial e enfatizar a igualdade entre os indivíduos. A atividade constou de apresentação teatral – reconto do livro paradidático Menina Bonita do Laço de Fita da autora Ana Maria Machado. A professora vestiu-se da personagem principal para dar ludicidade a história. O registro da atividade foi divulgado nas redes sociais como forma de exaltar a igualdade de direitos entre os humanos, porém foi interpretado por alguns frequentadores das redes sociais como blackface (prática teatral de atores que se coloriam com o carvão de cortiça para representar personagens afro-americanos).


II – DOS FUNDAMENTOS 2.1 DA EDUCAÇÃO
2.1.1 LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional N° 9.394/96. A educação, base de conhecimento de uma sociedade civilizada, está amparada pela legislação brasileira e caminha conforme os parâmetros descritos em lei, desde a sua organização administrativa até a base ministrada em sala de aula, englobando inclusive a cultura, as desigualdades, as diferenças, as lutas das comunidades, conforme elenca a LEI N° 9.394/96, sobre o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira, a saber: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra. Percebe-se em conformidade que a LDB N° 9.394/96 que a cultura Afro-Brasileira está prevista como conteúdo a ser ministrado nas escolas brasileiras e nos segmentos descritos.


2.1.2 BNCC – Base Nacional Comum Curricular A Educação para as Relações Étnico-Raciais é um conjunto de práticas, conceitos, e referenciais implícitos e explícitos que pretende formar no âmbito das instituições de ensino público e particular uma cultura de convivência respeitosa, solidária, humana entre públicos de diferentes origens, pertencimentos étnico-raciais presentes no Brasil e que se encontram nos espaços coletivos de aprendizagem (escolas, faculdades, centros formativos).


2.1.3 LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO Vygotsky, destacou que nas atividades da sala de aula, é preciso buscar novas formas para tornar o ensino estimulante e eficaz, pois é necessário criar situações de ensino-aprendizagem possibilitando um trabalho com dimensões lúdicas dentro e fora da sala de aula. Quando a criança é motivada pelo prazer, ela se envolve mais facilmente nas atividades e, consequentemente, fica à disposição para aprender. Já na BNCC – Base Nacional Comum Curricular, é enfatizado que criar e contar histórias oralmente, com base em imagens ou temas sugeridos” é um dos objetivos de aprendizagem no campo das experiências (Escuta, fala, pensamento e imaginação) muito importante no desenvolvimento das crianças. III – DOS PEDIDOS Todo o contexto em que se deu a apresentação da professora para as turmas, ocorreu de forma pedagógica e didática, no que reza a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional N° 9.394/96, assim como o elencado na BNCC – Base Nacional Comum Curricular e objetivou-se exaltar o Dia da Consciência Negra como forma de minimizar qualquer tipo de preconceito entre os estudantes e toda a sociedade, pois a escola é espaço de formação de pensamentos, ideias e construção do saber formal. O termo interpretado e apontado pelos supostos ofendidos, é desconhecido por essa comunidade escolar e portanto, pois não se trabalha com o intuito de diminuir seres humanos, mas elevar o nível dos povos que sofreram com a prática opressora ressaltada pela história mundial.


Diante da repercussão, do sentimento de ofensa interpretado pela comunidade negra e ou indivíduos frequentadores das redes sociais, reiteramos que: 1. A aula ministrada e veiculada foi excluída das redes sociais; 2. A equipe gestora e pedagógica externa PÚBLICO E FORMALMENTE SEU PEDIDO DE DESCULPAS a quem tenha se ofendido; 3. Não compactua com qualquer tipo de preconceito a quem quer que seja; 4. Solicita ainda, a SME – Secretaria Municipal de Educação de Valparaíso de Goiás, formações que abarquem o sentido do tema em epígrafe, munindo os servidores de mais saberes que incluam; 5. Ainda restando dúvidas, nos colocamos a disposição para mais esclarecimentos”.

Reprodução: G1

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