Quando a saúde adoece: falta de estrutura expõe população ao risco em Cidade Ocidental

O reflexo do descaso com a saúde pública é visível nas unidades básicas espalhadas pelo país — e não é diferente em Cidade Ocidental. Enquanto profissionais se desdobram para atender à população com dignidade, a falta de estrutura, recursos e insumos compromete a qualidade do serviço prestado, expondo pacientes e trabalhadores a situações de vulnerabilidade. A escassez de medicamentos, as filas, os equipamentos quebrados e, mais recentemente, até mesmo a ausência de produtos básicos de higiene tornaram-se parte da rotina de quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS) em Cidade Ocidental.

No bairro Recreio Mossoró, o posto de saúde local ficou mais de um mês sem receber insumos essenciais, como produtos de limpeza e papel higiênico, conforme denúncia enviada à redação do Jornal O Grito. A situação, relatada por pacientes e funcionários que pediram anonimato, teria se agravado no fim de março, quando os estoques se esgotaram completamente em algumas unidades.

Segundo os relatos, os profissionais precisaram improvisar para manter a higiene do ambiente e garantir o atendimento, já que a demanda tem sido elevada. “Nunca imaginei que esse posto fosse ficar como está. É de manhã e à tarde. Lotado, lotado”, contou uma das fontes.

A reposição parcial dos insumos ocorreu apenas nesta segunda-feira (6), conforme apuração da reportagem. No entanto, o fornecimento ainda é emergencial e não regularizou o abastecimento por completo.

A denúncia também aponta que a falta de insumos não é um episódio isolado e estaria afetando outras unidades do município.

Esse cenário acende um alerta sobre a segurança sanitária no atendimento e o risco de proliferação de doenças em ambientes que deveriam prezar pela prevenção e pelo cuidado com a saúde pública. Infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS), comuns em hospitais, surgem durante internações ou procedimentos médicos, sobrecarregam o sistema hospitalar e favorecem a disseminação de superbactérias resistentes. Preveni-las é essencial para garantir a segurança dos pacientes e a sustentabilidade do sistema.

O Jornal O Grito tentou contato com a Secretaria Municipal de Saúde para entender os motivos da falha no abastecimento e saber se há um plano de regularização. Até o fechamento desta matéria, não houve qualquer retorno. O espaço segue aberto para qualquer manifestação.

Crise na Secretaria de Saúde

A exoneração de Vanderli Ferreira do cargo de secretária municipal de Saúde de Cidade Ocidental, em março de 2025, ocorreu no contexto da Operação Pacto Sistêmico, conduzida pela Polícia Civil de Goiás. A ação investiga suspeitas de crimes contra a administração pública, supostamente cometidos durante a gestão do ex-prefeito Fábio Correa (2017–2024). Vanderli foi desligada da pasta pelo atual prefeito, Lulinha Viana, juntamente com outras servidoras ligadas à antiga administração. A medida foi interpretada como uma tentativa de distanciar a nova gestão das irregularidades investigadas e reafirmar o compromisso com a transparência e a moralidade na condução dos serviços públicos.

Poucas semanas após a mudança no comando da Secretaria, uma nova crise abalou a pasta. Em 15 de abril de 2025, a morte da menina Maria Eduarda Ferreira da Silva, de apenas 6 anos, causou comoção na cidade e levantou suspeitas de negligência médica no Hospital Municipal de Cidade Ocidental (HMCO). A criança deu entrada na unidade com sintomas de crise asmática, recebeu uma dose de hidrocortisona e, minutos depois, sofreu uma parada cardiorrespiratória. Apesar das tentativas de reanimação, o óbito foi confirmado cerca de duas horas depois. A Secretaria de Saúde afirmou que os protocolos médicos foram seguidos e classificou o caso como “atípico”, informando que aguarda o laudo do Instituto Médico Legal (IML) para esclarecer a causa da morte. O episódio provocou revolta entre moradores e familiares, que organizaram protestos em frente ao hospital, cobrando respostas e justiça.

A sucessão de episódios envolvendo a Secretaria de Saúde — da exoneração de gestores sob investigação à morte de uma criança em circunstâncias controversas — tem gerado desconfiança entre os moradores de Cidade Ocidental. Usuários do sistema público relatam medo, insegurança e incerteza quanto à qualidade do atendimento. Para muitos, a saúde municipal enfrenta uma crise não apenas de gestão, mas também de credibilidade. O caso de Maria Eduarda, em especial, tornou-se símbolo do abandono e da fragilidade de um serviço que deveria oferecer cuidado e proteção.

Diante desse cenário, cresce a pressão por medidas concretas de responsabilização, melhorias estruturais e mais transparência na condução da política de saúde do município. Moradores, profissionais e órgãos de controle esperam que as investigações em curso resultem em respostas efetivas — não apenas para os episódios já ocorridos, mas para garantir que tragédias como a de Maria Eduarda não voltem a se repetir.

Da redação – Jornal O Grito.


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