A Pandemia exige repensar o modelo de gestão e desenvolvimento de Cidade Ocidental, Brasília e entorno

Em um primeiro momento, pode parecer deprê. Mas há toda uma sabedoria em aceitar que determinados períodos de nossas vidas são (bem) ruins. Por quê? Porque os maus momentos nos ensinaram a arte da resiliência, expandem nossas capacidades de suportar o sofrimento, de lutar para não nos deixarmos abater, de vencer os mais loucos obstáculos e seguir em frente.

Escrevo essas linhas em meio à maior pandemia dos últimos séculos. Neste exato momento, o Brasil caminha para se tornar o país onde as pessoas mais se contaminam, adoecem e morrem por causa do novo coronavírus.

Mas o que isso tem de positivo? Com a pandemia vamos nos humanizando, saindo de nossas bolhas. Começamos a compreender que a Covid-19 transformou hábitos drasticamente e isso deve se refletir na maneira como os espaços urbanos vão se organizar daqui para frente.

Antes de o mundo prender a respiração diante da ameaça da Covid-19, a Bienal de Arquitetura de Veneza, na Itália, preparava sua edição de 2020 com o lema “Como vamos viver juntos?”. Ninguém poderia imaginar a dimensão que essa pergunta ganharia depois de apenas três meses, que foram suficientes para mudar o planeta.

A Região do Entorno de Brasília vivenciou nos últimos meses cidades esvaziadas por confinamentos, medidas de isolamento que não deixarão de existir tão cedo. Diante disso, as desigualdades sociais na região se fizeram ainda mais evidentes, multiplicam-se os debates sobre como serão os espaços urbanos no futuro pós coronavírus.

Para enfrentar o mundo pós-pandemia, as cidades do Entorno de Brasília precisam sanar problemas antigos: transporte público, segurança pública, saneamento básico, infraestrutura urbana, saúde e educação.

Como solução (no papel) o desenho é claro: planejamento de cidades mais digitalizadas, sustentáveis e saudáveis focadas em corrigir as profundas assimetrias que condenam a população da região.

Outro ponto importante para levar em consideração é o compartilhamento de serviços de qualidade. A cidade do amanhã deve intensificar projetos que ofereçam bibliotecas, cinemas, ciclovias, coleta de lixo seletiva, cursos profissionalizantes gratuitos e opções de entretenimento e de esporte.

O transporte público e a mobilidade urbana merecem atenção especial (e serão tema de discussão específica em um outro artigo), já que é inconcebível passar quase quatro horas utilizando serviços públicos para ir e voltar para o trabalho ou escola em deslocamentos entre as cidades do Entorno e a capital federal. É preciso ampliar o modal rodoviário, mas é fundamental que o modo ferroviário passe a fazer parte do cotidiano das cidades da região. Ocorre que estamos em uma região em que as pessoas estão se acostumando com o pouco. O escritor e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues criou a expressão “complexo de vira-lata” quando do trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, ocasião em que a Seleção Brasileira Futebol foi derrotada pelo Uruguai na final da Copa do Mundo em pleno Maracanã.Para Rodrigues, o fenômeno não se limitava somente ao campo futebolístico: “Por ‘complexo de vira-lata’entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.”

Assim estamos nesta Região do Entorno de Brasília, em que as cidades jamais tiveram o devido reconhecimento pelo Estado de Goiás, vivendo às mínguas do que o Distrito Federal pode oferecer.

Dessa forma, necessário se faz repensar o modelo de gestão de nossa cidade e de nossa região. Uma solução urbanística debatida há bastante tempo voltou a ganhar força com a pandemia do novo coronavírus: o fortalecimento das cidades do Entorno de Brasília para tornarem-se mais autossuficientes, em que as pessoas não teriam de se deslocar diariamente por grandes distâncias para trabalhar, estudar, fazer compras ou ir ao médico, por exemplo. A capital federal acaba reunindo aglomerações por concentrarem esses serviços.

Os desenhos de grandes cidades estão sendo repensados em todo o mundo. Com a pandemia, a organização das cidades tornou-se ainda mais necessária, principalmente quanto à reavaliação da concentração de serviços em centros

Chamamos a atenção dos gestores municipais, sobretudo neste ano eleitoral, para preverem planos de transformação digital nos serviços públicos e o fomento para deslocamentos rápidos para realização das atividades essenciais do cotidiano em um curto raio de distância de suas casas. Isso vale para escolas, locais de trabalho, opções de compra, esporte e lazer.

Por: Carlos Magno

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