Morador da periferia de Luziânia é aprovado em bolsa de intercâmbio na Europa

Com 28 anos, o jovem Gabriel Eduardo estuda Direito, curso que faz questão de dizer que é cotista e bolsista pelo ProUni e mora na periferia de Luziânia, uma das 15 cidades mais violentas do Brasil, onde é conselheiro municipal de juventude além de ser pesquisador sobre segurança pública. Sua trajetória já ganhou proporções internacionais, em 2018 ele foi convidado a participar da Assembléia de Juventude da ONU, em Nova York, Estados Unidos.

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No mesmo ano esteve em Genebra, na Suíça para o Fórum de Negócios e Direitos Humanos da ONU. A novidade é que desta vez ele é um dos vencedores do Edital Caminhos Edital Caminhos, iniciativa da Fundação Tide Setubal, com apoio do Instituto Ibirapitanga e Porticus América Latina que vai financiar atividades formativas diversas, como: cursos de idiomas, cursos de pós-graduação (MBA, especialização e extensão), participação em intercâmbios, congressos e seminários; cursos livres que abordem temáticas relacionadas à consolidação da democracia e à superação das desigualdades, dentre outras.

“Já tive a oportunidade de viajar para alguns eventos no exterior, porém para estudar será a primeira vez e o fato de ser escolhido para receber um financiamento estudantil entre mais de mil pessoas que também são muito atuantes torna nossa responsabilidade muito maior, eu espero captar muita coisa boa para poder transformar os nossos territórios em espaços mais justos e sustentáveis”, diz.

O jovem goiano foi escolhido entre mais de 1 mil inscritos para ser um dos 31 bolsistas que receberão o financiamento. Eduardo acredita que essa conquista se dá graças a seu trabalho de combate ao racismo e defesa de direitos para as periferias urbanas brasileiras.

Para o universitário, estudar no exterior significa mais que uma projeção internacional. Segundo ele, é uma oportunidade de aprender mais e resgatar os sonhos e as esperanças de outros jovens moradores de periferias que precisam ser ouvidos sobretudo com relação a segurança pública.

“É uma situação em que falam sobre nós, decidem ações e nosso nome e nunca ouvem o que nós temos a dizer. Nós cansamos de ouvir que o Brasil é campeão no número de homicídios e que jovens negros são as maiores vítimas, isso nós já sabemos desde a infância, o que nós queremos é deliberar uma política de segurança pública que pra nós, negros e pobres na periferia é muito diferente da ideia que o prefeito ou o governador branco, rico e morador de bairro nobre entende como segurança. Não tem como tratar sobre redução da violência se nós que somos as maiores vítimas não formos protagonistas do debate.”, afirma.

Da escola pública para o mundo

Eduardo nasceu em Brasília e ainda criança sua família se mudou para Luziânia. “Desde pequeno, vi inúmeros amigos e conhecidos morrerem assassinados e isso ser tratado como normal, enquanto não é! O bem mais precioso de um ser humano é a vida, a partir do momento em que ela passa a ser banal, o Estado falhou em todos os outros pontos.”, lembrou.

Gabriel cursou todo o ensino médio na escola pública do bairro em que mora, o Parque Sol Nascente, em 2015 obteve nota no Enem que lhe deram aprovação em 5 universidades, escolheu o curso de Direito e desde então, sua vida tem sido dedicada a estudar sobre os contextos relacionados aos homicídios e a segurança pública. “Antes de entrar na faculdade eu participei da CPI do Assassinato de Jovens, no Senado, muitas das vezes chegava tarde em casa e só com o dinheiro da passagem, mas fui em todas as sessões para ouvir o que os especialistas diziam, logo depois entrei na faculdade e pude tratar do assunto de uma forma mais científica”, disse.

Apaixonado por comunicação, política, direito penal, cultura e relações internacionais, o brasiliense conta que entre suas referencias estão juristas consagrados como Silvio Almeida e o piloto Ayrton Senna. Sua grande inspiração é o cantor Emicida. “Sempre gosto de reafirmar que, talvez se não existisse não só o Emicida, mas o Mano Brown, o Eduardo, Djonga, GOG, Renan Inquérito e as músicas de rap em geral, eu não teria entendido problemas como a desigualdade social, o racismo, a violência, etc. O fato de ouvir e entender a mensagem que o rap passa sempre me motivou bastante”, revelou.

Edital Caminhos

O edital é a primeira iniciativa do Fundo Alas, ainda em construção, que apoiará lideranças negras em diferentes momentos de vida (ainda na escola, na faculdade, no mercado etc.). O fundo é liderado pela Fundação Tide Setubal, instituição que acredita na importância da diversidade de raça e gênero nos espaços de decisão para reduzir os estigmas e a distância subjetiva entre centro e periferia, ampliando a cultura democrática e a capacidade de protagonismo dos agentes dos territórios.

Reprodução: Correio de Goiás

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